quinta-feira, 26 de março de 2009

APRESENTAÇÃO DE CANDIDATOS À CML E À AML

APRESENTAÇÃO DE CANDIDATOS

DIA 26 DE MARÇO

Hotel Roma


1. LISTAS


CANDIDATOS À AML

Ana Páscoa
Professora do Ensino Secundário. Eleita na AML. PCP


Carlos Carvalho
Engenheiro. Vereador da CML. PCP.

Cecília Sales
Técnica de Comunicações de Aviação (Reformada). Eleita na AML. Eleita na AF de Santa Maria dos Olivais. PCP

Deolinda Machado
Professora. Membro da Com. Ex. da CGTP. Independente eleita na AML.

Francisco Silva Dias
Arquitecto. Provedor da Arquitectura. Eleito na AML. Independente.

José Luís Ferreira
Jurista. Eleito na AML e na Assembleia Metropolitana de Lisboa. Membro do Conselho Nacional e da Comissão Executiva do PEV

José Manuel Jara
Médico Psiquiatra. Ex-Director de Serviços/Hosp. Júlio de Matos. PCP

José Sobreda Antunes
Funcionário Público. Eleito na AML e na AF do Lumiar. Membro do Conselho Nacional do PEV.

Levy Batista
Advogado. Foi Deputado Constituinte. Presidente do Conselho Fiscal da ID. Intervenção Democrática.

Rita Magrinho
Professora. Membro do Conselho Nacional de Educação. Vereadora da CML desde 1998, com pelouros atribuídos no mandato de 1998/2001. PCP.


CANDIDATOS À CML

Anabela Diniz
Socióloga. Eleita na JF de Santa Catarina. PCP.

Carlos Moura
Engenheiro do Ambiente. Ex-dirigente da Quercus/Lisboa. Membro da Plataforma dos Utentes da Carris. Vereador da CML. PCP.


Cláudia Madeira
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas. Membro do Conselho Nacional e da Comissão Executiva do PEV.

Inês Zuber
Socióloga. Vereadora da CML. PCP.

Libério Domingues
Encarregado de Oficinas Mecânicas. Membro da Com. Executiva da CGTP. Coordenador da União de Sindicatos de Lisboa. PCP.

Manuel Figueiredo
Economista. Presidente do Cons. Fiscal da Voz do Operário. Membro dos órgãos sociais da AIL e dos Inválidos do Comércio. Vereador da CML. PCP.

Miguel Tiago
Geólogo. Deputado da Assembleia da República. PCP.

Paulo Quaresma
Professor do 1º ciclo do EB. Presidente da Junta de Freguesia de Carnide desde 2002. PCP.

Tiago Mota Saraiva
Arquitecto. Ex-membro dos órgãos sociais da Ordem dos Arquitectos. PCP




CABEÇAS DE LISTA PARA A AML E A CML

António Modesto Navarro
Escritor. Representante do Grupo Municipal do PCP na AML

Ruben de Carvalho
Jornalista. Vereador da CML desde 2005. PCP




2. Biografias dos cabeças de lista


Biografia de António Modesto Navarro
Síntese



Nasceu em Vila Flor, Trás-os-Montes, em 1942.

Escritor.

Foi criativo de publicidade e técnico superior principal do Ministério da Cultura.

Autor de 39 livros – romances, contos, poesia e ainda levantamentos de carácter sociológico, nomeadamente sobre emigração, cultura popular e situação no interior do país (Trás-os-Montes, Beira Alta e Alentejo).

Prémio “Caminho” de literatura policial em 1991.

Militante do PCP desde 1971.

É Deputado da Assembleia Municipal de Lisboa desde 1985, tendo sido Presidente desta Assembleia de 2003 a 2005.

É Deputado da Assembleia da Grande Área Metropolitana de Lisboa.

Recebeu a Medalha de Ouro da Cidade em 2002.

Foi Presidente do Conselho Regional da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro. É Presidente da Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário.

Membro da DORL / PCP.

Membro da Direcção da Organização da Cidade de Lisboa / PCP.

Biografia de Ruben de Carvalho
(Ruben Luís Tristão de Carvalho e Silva)
Síntese



Nasceu em Lisboa.
Jornalista. 64 anos.

Foi chefe de redacção da «Vida Mundial», redactor coordenador de «O Século» e chefe de redacção do semanário «Avante!», a partir do nº 1 da série legal (1974).
Foi director da rádio local «Telefonia de Lisboa» (1985/1989).
Foi responsável pelo «Avante!», órgão central do PCP, de Abril de 1974 a Junho de 1995.

Foi membro do Conselho de Opinião da RTP em 2002, é actualmente comentador da SIC Notícias e colaborador permanente do semanário «Expresso» e da RDP-Antena 1.

Foi membro das «comissões juvenis de apoio» à candidatura do General Humberto Delgado (1958).
Foi vice-presidente da Comissão Pró-Associação dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa (1960/62) e membro do Secretariado da Comissão de Apoio à Candidatura da Oposição Democrática às «eleições» para a Assembleia Nacional (1965).

Foi membro do executivo da CDE de Lisboa (1972-1974).

Foi chefe de gabinete do Ministro Sem Pasta Prof. Francisco Pereira de Moura no I Governo Provisório após o 25 de Abril de 1974.

Foi membro da Comissão Executiva das Festas de Lisboa e Comissário de LISBOA 94 – Capital Europeia da Cultura nomeado pela Câmara Municipal de Lisboa.

Foi deputado à Assembleia da República eleito pelo distrito de Setúbal (1995) e Vereador da Câmara Municipal de Setúbal (1997).

É membro do Executivo da Comissão Organizadora da Festa do «Avante!» desde 1976.

Vereador da Câmara Municipal de Lisboa desde as eleições autárquicas de 2005.

É membro da Direcção Organização da Cidade de Lisboa do PCP.

É membro do Comité Central do PCP desde 1979.


3. Intervenções


Intervenção de Modesto Navarro

Caros convidados, Caros Camaradas, Caros companheiros do Partido Ecologista “Os Verdes”, da Intervenção Democrática e independentes que connosco formam a CDU, Senhoras e Senhores Jornalistas,

Temos uma orientação muito clara para os órgãos deliberativos, as assembleias municipais e de freguesia, desde há muitos anos. Para nós, são órgãos com autonomia e capacidade de intervenção plena, na defesa dos interesses das populações, dos trabalhadores, do desenvolvimento integrado de cada concelho e freguesia.

É esse o trabalho que temos realizado na Assembleia Municipal de Lisboa. Podemos afirmar que fomos decisivos, em mandatos anteriores, para a criação de condições concretas de dignificação dos grupos municipais, no alargamento dos espaços de trabalho, na formação de gabinetes de apoio dos grupo municipais, com pessoal e meios necessários, na conquista de condições adequadas para o funcionamento das comissões, na elevação do nível das intervenções e das visitas a áreas e problemas da cidade, saindo da Assembleia Municipal, na realização de iniciativas específicas sobre temas principais, de interesse para Lisboa, em conjugação com as instituições, as estruturas associativas e os especialistas convidados.

Infelizmente, neste mandato, não houve essa ligação da Assembleia Municipal à cidade, na realização de colóquios e outros encontros, de saberes conjugados e de propostas para intervenção mais acentuada na mudança da vida em Lisboa.

A maioria absoluta do PSD não concorreu para essa ligação essencial à vida democrática. Pelo contrário, acentuou-se o bloqueio da direita às questões essenciais, e, com o PS a ajudar, a Assembleia Municipal passou e passa por tempos difíceis, de parlamentarização e guerrilha vazia de significado, de agressões eleitoralistas, de mera caça ao poder e ao voto que seria caricata se não fosse trágica.

O PS e o PSD esvaziaram os órgãos deliberativos municipais e de freguesia, ao longo dos anos, destruindo poderes democráticos e a autonomia consagrada na Constituição da República, através de alterações da legislação e retirada de meios financeiros. E, na prática, concorrem para desprestigiar as assembleias, que têm obrigação de acompanhar, vigiar e decidir sobre o que os executivos propõem e realizam.

Ao contrário, pelo nosso lado, também neste mandato podemos afirmar que trabalhámos nos plenários da assembleia, nas comissões, nos gabinetes, nos bairros e nas freguesias, na ligação estreita às instituições, clubes e colectividades, na articulação com os camaradas eleitos na Câmara Municipal, nas Juntas e Assembleias de Freguesia. Praticamos o que há muito definimos em conferências sobre o poder local democrático, respeitando a autonomia dos órgãos e impulsionando a resolução dos problemas da cidade, defendendo os interesses fundamentais das populações e dos trabalhadores, apoiando nomeadamente os mais desfavorecidos e os que combatem pelos seus direitos.

Neste mandato, estivemos nas freguesias e nos bairros, ouvindo as populações, trazendo para a Assembleia esses levantamentos de questões e as propostas essenciais à resolução dos problemas e à elevação da qualidade de vida na cidade.

O contacto directo com as populações, a ligação e a resposta aos munícipes, a articulação com as organizações locais, o trabalho com as estruturas associativas, a resposta certa no momento certo, foram e serão objectivos fundamentais na nossa intervenção de eleitos e dos camaradas e companheiros dos gabinetes do PCP e de “Os Verdes”, que aqui saudamos.

Não nos afastámos dos problemas dramáticos do desemprego, do esvaziamento da cidade, do empobrecimento dos bairros e das freguesias. Combatemos as políticas do PSD de Carmona e Santana Lopes, passo a passo, da corrupção aos golpes de apoio à especulação e ao alto negócio, como enfrentámos desde logo um outro executivo, do PS, de António Costa e do Bloco de Esquerda, agora divorciado de Sá Fernandes. “Vem aí um inimigo do poder local”, foi o que dissemos na sessão de apresentação da nossa candidatura à Câmara Municipal, em 2007. António Costa, como ministro do governo do PS e de Sócrates, foi muito prejudicial para a autonomia e a afirmação dos municípios, nas leis e na prática diária. Em Lisboa, como presidente da câmara, enquanto autarca, tem sido uma nulidade clamorosa no essencial e um perigo diário para a cidade. Como militante e dirigente do PS, tem acompanhado, promovido e apoiado iniciativas de destruição do património nacional e municipal, de hospitais, do Tribunal da Boa-Hora, do complexo desportivo da Lapa, da perversão das funções do Pavilhão Carlos Lopes, de tudo o que possa ser alto negócio e especulação na cidade.

Na Assembleia Municipal, temos combatido esta aberração da política do PS na câmara e no governo. Os custos da capitalidade, no que sempre defendemos, de acerto e negociação com os governos, para o prestígio e a elevação da cidade capital do país, com o PS transformaram-se em conluios e instalação de situações que corrompem o essencial da vida da cidade, degradando ainda mais a nossa identidade, o património e o futuro de Lisboa.

Nós, na Assembleia Municipal, na Câmara e nas Freguesias, articulamos o nosso trabalho na defesa do desenvolvimento da cidade, na criação de condições de habitação e de reabilitação urbana, na revitalização e rejuvenescimento da população. Defendemos a criação de empresas, o emprego e o bem-estar das populações e de quem trabalha em Lisboa. Prestamos particular atenção às zonas mais carenciadas e difíceis, aos bairros municipais, à segurança e à presença policial de prevenção e proximidade, às condições de vida de quem tem dificuldades e quer um poder local interventivo, ao lado de quem sofre e combate pela dignidade e pela qualidade de vida a que tem legítimo direito.

A cultura, o desporto, o apoio social, a defesa do ambiente, são ausências clamorosas nas políticas de António Costa, do PS e de Sá Fernandes. Eles não sabem, nem sonham, nem querem saber do que deve ser o poder local democrático em Lisboa. Não cuidam da cidade, que está esburacada e tem graves problemas de mobilidade e de segurança. Não ajudam as populações dos bairros e das freguesias, das zonas difíceis; não resolvem os problemas a que a Gebalis volta as costas, ostensivamente, seguindo a arrogância, o desinteresse de António Costa, do PS e de Sá Fernandes. Não há limpeza e higiene urbana, como não têm respeito pelas Juntas de Freguesia que querem realizar trabalho a favor das populações e não têm um executivo com pelouros na Câmara Municipal que os acompanhe nas medidas essenciais e urgentes que é necessário tomar.

Todas estas questões e frentes de trabalho são as nossas áreas fundamentais de acção e de intervenção. Fizemo-lo colectivamente, ao longo do mandato, na Assembleia Municipal, e aí estaremos, nos plenários, nas comissões, nos bairros e nas freguesias, lutando pela realização do nosso programa, o programa da CDU e de Lisboa, ganhando mais eleitos e mais apoio nos tecidos económico, social, cultural e associativo da cidade, para mudar determinadamente esta situação de duplo prejuízo para Lisboa. É preciso acabar com a maioria absoluta do PSD na Assembleia, que é eleitoralista, cega e fiel seguidora de Santana Lopes. Só nos faltava este regresso e retrocesso de opereta, de alguém que foi uma nódoa imensa para Lisboa, como presidente da câmara. E é preciso acabar com esta situação de um executivo inútil, dizendo a António Costa e ao PS que é tempo de a Câmara Municipal ter um presidente que seja de facto um autarca a sério, honesto e competente, e não um fazedor de moções para congressos do PS e um frequentador de programas televisivos quadriculados e empobrecedores.

Lisboa precisa urgentemente de lealdade, firmeza, honestidade e confiança para vencer os enormes desafios do seu esvaziamento e da destruição dos tecidos identitários, patrimoniais e sociais. Lisboa precisa do nosso trabalho, da nossa força transformadora, todos os dias, nos órgãos municipais e nas freguesias. E aí estaremos, como sempre estivemos, com transparência e com firmeza revolucionária, ao lado do povo da cidade, na defesa da democracia e do 25 de Abril, na mudança decisiva que propomos no nosso programa e que realizaremos com a transparência e a entrega à luta que nos caracterizam e que nos dão força para fazermos a diferença e o futuro de Lisboa.


VIVA A CDU!

VIVA LISBOA!


Intervenção de Ruben de Carvalho

Camaradas e amigos,
Companheiros do Partido Ecologista «Os Verdes» e da Intervenção Democrática,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,


O acto de cidadania que hoje nos reúne exprime antes de tudo o mais uma afirmação de vontade e determinação, mas traz consigo bastante mais que alarga o seu significado e ilumina as razões e objectivos que nos trouxeram aqui.
Temos pela frente um ano político duro e difícil no qual iremos travar batalhas eleitorais em condições especialmente complexas.
Desde logo, pela sua próxima sucessão, pelo que a sua proximidade envolve de exigências de trabalho, de reflexão, de intervenção, de esclarecimento e mobilização, mas também pela influência que os resultados de cada uma poderão exercer sobre as outras, pela complexidade de encontrarmos resposta simultaneamente à especificidade de cada acto eleitoral em todos mantendo a coerência e consistência das posições, dos princípios e dos objectivos programáticos que caracterizam sempre e em todas as circunstâncias e batalhas a nossa intervenção política.
Por outro lado, o ciclo eleitoral deste ano desenvolve-se no quadro da mais profunda crise económica e social que o mundo contemporâneo conhece, muitos dizem desde 1929, mas outros admitem que seja exactamente este o ano que comprova as previsões que a brutal e devastadora convulsão que atravessa o sistema capitalista ultrapassará a dramática memória da década de 30 do século passado.
A tarefa a que pertence esta nossa reunião – as eleições autárquicas de Lisboa – tem desde logo a particular característica de, ao analisarmos a realidade que nos rodeia, ver meridianamente confirmada a afirmação que temos feito nos últimos meses: a crise que os portugueses enfrentam não é um simples reflexo, uma consequência da crise mundial, naturalmente que a reflecte, mas tem raízes próprias e nacionais que profundamente a agravam. E nós, em Lisboa, sabemo-lo bem.

Camaradas e amigos,

Como a História ou como o Teatro, o Tempo é uma criação urbana. Foi a Cidade, a humana criação da realidade histórica urbana (a «coisa humana por excelência», lhe chamou Levy-Strauss), que alterou as noções de Tempo referenciadas pela Natureza e pelos seus ciclos e fenómenos para impor uma noção mais rigorosa, mais orgânica, mais científica e exacta da sua medida.
Na Cidade contamos o tempo e, com todo o rigor – que não apenas o cronológico, mas essencialmente o político – podemos categoricamente afirmar que, em Lisboa, a crise iniciou-se há oito anos e há oito anos não deixou de se desenvolver.
Há oito anos iniciou-se – com especial virulência política e de classe, tanto quanto insensatez e ausência de ética – um período que se reflectiu em todos os aspectos da vida quotidiana de Lisboa, das condições de vida da população cuja expulsão da urbe se acentuou até aos caos administrativo e à corrupção declarada na administração municipal.
Tivemos, nós, a CDU, oportunidade de, há quatro anos denunciar o que se passara no mandato que terminara e anunciámos o que se passaria se o rumo não fosse corrigido. Tínhamo-lo, de resto, feito com vigor e coragem ao longo de todo esse tempo: os eleitos da CDU na Câmara e na Assembleia Municipal foram os únicos – e não hesito um segundo em afirmar exactamente, os únicos – a, dia a dia, tomar a defesa da Cidade (e vale recordar os belos versos de Goethe quando cantou que «o que é a cidade se não o povo»?).
Foram quatro anos de luta denunciando os atropelos, os escusos negócios, os erros criminosos da gestão de Santana Lopes, de Paulo Portas, de Carmona Rodrigues, do PSD e do CDS, sempre com o apoio ou a complacência dos eleitos do Partido Socialista e as trapalhadas e contradições do Bloco de Esquerda.
Tínhamos, infelizmente razão e bastaram poucos mas longos meses (22, para que deixemos o tempo dar a necessária exactidão à História e à memória) para que a direita no poder municipal conduzisse a Câmara ao colapso. Ao colapso financeiro pelos negócios e pela cedência à especulação imobiliária, ao colapso orgânico e funcional pela desrespeito pelos trabalhadores e pela incompetência da gestão, ao inevitável colapso político (no fundo, o colapso político e ético onde tudo o resto tinha a sua origem) conduzindo a uma vergonhosa sucessão de investigações, processos judiciais, inquéritos, indignos de Lisboa, indignos da Cidade capital do País.

Camaradas,

Vivemos nos últimos dois anos uma situação à qual de todo se aplica uma frase célebre, a demonstrar que vale a pena aprender com a História: com os resultados das eleições e a nova maioria (ou, como ironicamente tem sido conhecido, a maior minoria…) do Partido Socialista, mudou alguma coisa para que tudo ficasse na mesma…
Tem sido constante no discurso do presidente António Costa a alegação que encontrou uma Câmara endividada e caótica, assim se justificando a ineficácia da actual gestão socialista. Seria conclusão lógica que seria então necessário mudar a responsável política de direita – não continuá-la, como sucedeu.
Quanto à situação financeira, interessa deixar claro que sendo, como sempre dissemos, grave o endividamento do município, dois aspectos da inteira responsabilidade da actual maioria prolongaram os problemas: em primeiro lugar, a inexactidão, a falta de clareza e rigor com a qual essa situação e respectivos problemas foram quantificados e discutidos, quer pela Câmara, quer pela Assembleia Municipal. Andámos a saltitar de 600 milhões de euros para os 450, depois para 360, com várias parcelas, somas e subtracções pelo meio; em segundo lugar, o conflito absurdamente aberto por António Costa com o Tribunal de Contas, manifestação aliás de um pendor autoritário e agreste que outras manifestações teve, nada compagináveis com uma exigível cultura democrática.
Quanto à situação orgânica da Câmara, foi – em princípio – resolvido o problema dos trabalhadores com vínculo precário – uma exigência desde sempre apresentada pela CDU – mas pouco ou nada se avançou noutros aspectos fundamentais como os problemas do tecido empresarial municipal, as carreiras e a estrutura da Câmara, sendo indispensável recordar aqui que foi tónica (recentemente denunciada pelos Vereadores comunistas) deste mandato, a Câmara aprovar propostas da CDU e os Vereadores do PS meterem-nas na gaveta!
Entre estes casos conta-se (além da já referida questão das carreiras) uma questão maior que é o da revisão do Plano Director Municipal. Daria ela para estarmos aqui largas horas só para contar as suas tristes vicissitudes, mas permitam-me que sublinha um aspecto (e lá regressamos a essa urbana questão do tempo!) que, com os comunistas fazendo parte do executivo camarário, o primeiro PDM de Lisboa entrou em vigor em 1994 e deveria ter sido substituído por novo plano dez anos depois, em 2004. Os trabalhos da sua revisão estavam em curso quando da infausta entrada de Santana Lopes nos Paços do Concelho e a sua total paralisia foi um dos primeiros e mais significativos actos desse infausto período para Lisboa.
Os Vereadores e Deputados Municipais comunistas e dos seus aliados na CDU travam esta batalha há anos: há 5 que o actual PDM deveria ter sido substituído.
Correspondeu a mudança das eleições intercalares a uma modificação deste grave estado de coisas? Não.
O urbanismo do PS de António Costa e Manuel Salgado na Câmara tem-se caracterizado por uma operação, seguramente mais hábil que a da tosca política direita de Santana Lopes ou Carmona Rodrigues (e talvez por isso mesmo mais condenável), mas conducente exactamente às mesmas consequências de desregulamento, ausência de correcção de desmandos, definição de regras urbanísticas que sirvam a cidade e não a especulação imobiliária.
O processo é simples: a revisão do PDM marcha a passo de caracol, umas vagas reuniões condimentadas com umas manifestações de intenções e umas declarações em esparsos discursos. Na prática – nada.
Entretanto, a Câmara multiplica, com os mais diversos pretextos, planos e projectos parcelares em zonas estratégicas: o Parque Mayer, Alcântara, Boavista, zona oriental, enterra plano como o PUZRO. O resultado é previsível: quando finalmente se avançar para um Plano Director Municipal não teremos um PDM que estruture a actividade urbanística da Câmara e dos operadores urbanísticos, mas sim um PDM condicionado pelas consumadas situações acordadas entre a actual Câmara e os operadores urbanísticos!

Camaradas e amigos,

Esta metodologia – chamemos-lhe assim, por comodidade de linguagem… - relativamente ao PDM permite que se introduza aqui uma outra negativa característica da actual política da Câmara PS/António Costa: entre estes «operadores urbanísticos» que são hoje os privilegiados interlocutores do município lisboeta conta-se o poder central, isto é, para falar inteiramente claro, o governo socialista de José Sócrates.
Quotidianamente a Câmara ajusta a sua política à agenda do governo e à sua política, hoje universalmente aceite como a mais à direita seguida desde o 25 de Abril.
Poderíamos enumerar casos sobre casos, mas recordamos apenas a situação relativamente às operações eleitoralistas da frente ribeirinha a propósito do centenário da República, os confusos acordos com a estatal Administração do Porto de Lisboa (cujo aspecto mais destacado é o caso do contrato da Liscont de Jorge Coelho e do terminal de contentores de Alcântara), a inoperância face a decisões da Carris e do Metropolitano que afectam gravemente o problema de transportes públicos, as indefinições do aeroporto da Portela, da terceira travessia do Tejo e dos seus impactos em Lisboa (note-se, por exemplo, como aqui se pretende contrabandear o famoso e polémico projecto da «circular das colinas»!), o TGV, a passividade municipal às operações imobiliárias governamentais envolvendo quartéis, prisões, hospitais (com evidente impacto no tecido urbano e na vida dos lisboetas), a operação imobiliária da transferência do IPO para a zona oriental da cidade (em terreno oferecido pela Câmara) sem se saber qual o negócio dos terrenos de Palhavã, a polémica em torno da utilização das verbas do casino (sem dúvida, a mais notoriamente mimosa e esclarecedora herança deixada por Santana Lopes ao povo de Lisboa!), as operações cosméticas sobre um problema tão sentido pelos lisboetas como o da segurança e a acção da PSP sem uma posição clara da Câmara sobre essa responsabilidade governamental – e tantos, tantos outros casos.
A Câmara Municipal de Lisboa não tem de ser um contrapoder em relação ao poder central, mas também não pode ser uma pura e simples sua extensão para a Capital. E não deixa de ser irónico que o actual presidente António Costa frequentemente tropece nas leis e medidas da responsabilidade do ex-ministro da Administração Interna António Costa…

Camarada e amigos,

Já vai longa esta intervenção, será culpa minha, mas a culpa fundamental é da quantidade e dimensão dos problemas que nos cabe enfrentar e para a resolução dos quais urge esclarecer e mobilizar a atenção dos lisboetas e a decisão de voto dos eleitores.
Em rigor, deveria falar – e teremos de o fazer aos lisboetas – do péssimo trabalho da maioria PS/António Costa no relacionamento e descentralização com as Juntas de Freguesia e com as colectividades lisboetas; teríamos de falar na completa ausência de uma política cultural consistente, tão importante para uma urbe como a nossa Lisboa; teríamos de falar da completa derrapagem da vital reabilitação urbana, teríamos de falar sobre os avanços no conceito de privatização e esvaziamento de serviços públicos como a limpeza (num insistir em métodos que a presente crise brutalmente tem revelado prejudiciais e inoperantes); a ausência de uma clara política que contrarie o despovoamento de Lisboa ou uma idêntica ausência de uma política para a juventude, para o desporto, para a educação ou os patéticos fogos de vista relativamente ao degradado espaço público, de que o verdadeiro e fiel retrato são operações como as conduzidas com as «privatizações» tipo Praça das Flores ou «fórmula 1 na Avenida da Liberdade», sem falar nesse insulto ao bom senso e ao bom gosto (que falta nos fizeram então um Eça ou um Ramalho…) das inconcebíveis «decorações de Natal» congeminadas pelo outrora trauliteiro e barulhento paladino de tudo que foi o vereador Sá Fernandes, aliás, ex-Bloco de Esquerda e ex-paladino…
De resto, o que se passou com esta vereação no seu todo é outra lição a merecer breves comentários, que a realidade fala por si. O Bloco de Esquerda e o seu vereador foram a imagem da confusão, da fuga aos compromissos, da incoerência e do desrespeito pelo eleitorado; os Cidadãos por Lisboa da vereadora Helena Roseta percorreram o mesmo caminho, tendo-se contudo atrasado um bocado quanto à distribuição de cargos… Mas sempre se arranjou qualquer coisita e lá estão, lado a lado com António Costa, todos os dias na Câmara e bramando de vez em quando na Comunicação Social…
O PSD acantonou-se na Assembleia Municipal, é a imagem mesma do desnorte que nacionalmente o caracteriza com Vereadores a votarem de uma forma e os deputados municipais doutra, para não falar de pormenores como a assiduidade ou a intervenção enquanto força política.


Camaradas e amigos,

Temos pela frente tarefas e exigências complexas. Mas não partimos do nada. Muito pelo contrário.
Temos obra feita, experiência e trabalho e intervenção consistentes, estudados, coerente, somos sobretudo fieis aos compromissos que tomámos com os votos que nos foram confiados e com todo o povo de Lisboa.
A crise em Lisboa começou há oito anos. Só a CDU a ela se opôs, só com a CDU será possível responder-lhe.
Temos projectos, temos da política e da Cidade uma visão nobre, responsável, exigente que cimentou na prática em três décadas palavras que mantêm toda actualidade: trabalho, honestidade e competência.

Estamos aqui, sobretudo, para anunciar que, convosco, Lisboa e o seu povo podem continuar a contar connosco.
Para anunciar que somos a força política que não teme, não hesita, não abandona, não mente, não desiste. Que somos a garantia que há alternativa à política de direita, que há alternativa à crise, que há uma política ao serviço dos trabalhadores e do povo, que dar força à CDU é tornar possível a alternativa, é dar força à alternativa.
Resta trabalhar. Mas isso, nós sabemos fazer. É da classe operária e dos trabalhadores que vimos. Com eles aprendemos e continuamos a aprender!
Ao trabalho, pois, camaradas e amigos!

Viva a Coligação Democrática Unitária!

Viva a CDU!