quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Intervenção de Ruben de Carvalho na apresentação do Programa Eleitoral, hoje, às 18.30, no Forum Lisboa

CDU da Cidade de Lisboa

Apresentação do Programa Eleitoral

20 de Agosto de 2009

Intervenção de Ruben de Carvalho

Companheiros do Partido Ecologista «Os Verdes» e da Intervenção Democrática

Companheiros independentes que connosco dais forma à CDU

Camaradas do Partido Comunista Português

Senhoras e Senhores jornalistas

Minhas senhoras e meus senhores

Está, pois, apresentado o programa eleitoral da Coligação Democrática Unitária para a sua candidatura à Câmara e à Assembleia Municipais de Lisboa.

É, como constitui timbre e responsabilidade da CDU, um documento que resulta de um trabalho amplo e democrático, de uma análise cuidada e pautada pelo rigor, ancorada numa experiência que não apenas averba as três décadas do Poder Local democrático criado pela Revolução de Abril, mas igualmente o profundo conhecimento de Lisboa, dos seus trabalhadores, do seu povo, das suas ruas, do seu rio e do azul do seu céu construído ao longo dos mais de 80 anos da luta e vida do nosso Partido, nascido e formalmente fundado exactamente aqui, exactamente em Lisboa, em plena Baixa pombalina, pelo operariado da nossa cidade.

Este Programa que hoje vos trazemos afirma, antes de tudo o mais, uma realidade clara: a CDU está disposta, tem condições, oferece garantias para responder a todas as exigências colocadas pela governação autárquica da Cidade. Estaremos presentes em todas as condições e em todas as circunstâncias, daremos o nosso contributo da forma que o povo decidir através do seu voto, não admitimos a priori nenhuma limitação à nossa capacidade na definição dos destinos da Cidade. Fá-lo-emos exactamente como o povo decidir, para servir o povo em todas as circunstâncias, sempre baseados na força que dele nos vier – como sempre temos feito.

Os últimos anos revelaram com toda a clareza que a CDU é a força que marca a diferença na governação autárquica da Cidade. Marca na forma como exerce o poder (seja na Câmara, seja nas freguesias), marca na forma como é Oposição e aí garante a presença dos interesses da cidade e dos munícipes, marca na forma como está atenta a operações e manobras que afectam e prejudicam. É, em resumo, o fio de prumo que assinala a verticalidade que uns ignoram, outros esquecem, outros escandalosamente violam.

No que foi bem feito em Lisboa – está a mão da CDU; na advertência para os erros – e mesmo crimes – que se cometeram, está a denúncia da CDU; na intervenção para a correcção dos erros, para a defesa da legalidade, para a procura das soluções – está a mão da CDU. Estão a mão dos eleitos da CDU e do apoio popular que é a razão de ser do seu dia a dia.

Camaradas e amigos

Já é quase um lugar comum sublinhar a importância do ciclo eleitoral que agora prossegue e culminará exactamente com as eleições autárquicas.

Começámos bem!

Começámos com um excelente resultado nas eleições para o Parlamento Europeu, e um excelente resultado não apenas naquilo que os números eleitorais traduziram, mas sobretudo no que se revelou de capacidade, de determinação, de força e vontade dos comunistas e dos seus aliados e que teve expressões tão majestosas e estimulantes como a nossa marcha de 23 de Maio.

Teremos as determinantes eleições para a Assembleia da República que decidirão se Portugal continuará entregue à governação mais à direita que conhecemos desde o 25 de Abril ou se, como é indispensável, o eleitorado impõe a alternativa (e repito, a alternativa, camaradas! Alternâncias Sócrates/Ferreira Leite, dirá a exacta e feita frase – é apenas mais do mesmo!). Trabalharemos para a indispensável alternativa à desastrada governação destes anos e anos.

Mas foi Lisboa que hoje aqui nos trouxe.

O nosso Programa está nas vossas mãos e nas vossas vozes – há que prosseguir agora o trabalho que sempre e tão bem sabemos fazer: levá-lo ao povo.

Entretanto, camaradas e amigos, permitam-me que chame a vossa atenção para alguns aspectos que concedem ao período que se abre com as próximas eleições um significado e uma importância muito particulares.

As eleições na capital têm, por esse próprio facto, tal como pela expressão demográfica e económica de Lisboa e da Área Metropolitana, uma especial importância.

Mas julgo indispensável sublinhar que no centro da vida económica e política nacional se encontram hoje questões e realidades directamente ligadas com a Cidade: refiro-me, camaradas e amigos, entre outros, nomeadamente aos projectos do novo aeroporto, do TGV e da terceira travessia do Tejo. Aliás, se António Sérgio, de quem tantas vezes justamente discordámos, hoje voltasse, diria – e se calhar agora com razão… - que as classes dominantes portuguesas não conseguem abandonar a fatal política do transporte – em que Portugal apenas é marinheiro…

Cada uma das questões citadas tem problemas, implicações, significados próprios e específicos, mas, em comum, têm igualmente um facto: todos eles afectarão estrutural e fundamentalmente as características, a identidade, a realidade económica, urbanística, social e cultural de Lisboa.

Julgo, camaradas e amigos, que concordareis na indispensabilidade de prosseguirmos o trabalho que, a vários níveis, o PCP tem desenvolvido no sentido de aprofundar, compreender e intervir no que se configura como intervenções estruturais com implicações em toda a área metropolitana de Lisboa e do vale do Tejo, portanto inevitavelmente implicações a nível nacional.

Não podemos separar operações que envolvem a margem sul do Tejo (o «arco ribeirinho sul», a situação do Arsenal do Alfeite, os terrenos da Margueira e da Quimigal, as ensejadas tinfra-estruturas no Poceirão, o terminal cerealífero da Trafaria, a eterna questão da Golada), para não falar da magna questão do aeroporto de Alcochete (o tal do «jamé»…), com as questões de ligações pesadas (TGV, terceira travessia) e intervenções em Lisboa como as da frente ribeirinha, do terminal de contentores de Alcântara, de rede ferroviária em Lisboa e nó de Alcântara, etc.

Estamos, a meu ver, face a um projecto de grandes dimensões envolvendo os mais poderosos interesses económicos nacionais - e não só, já se vê, o capital estrangeiro não deve andar longe… – de que os governos das últimas décadas têm sido fieis serventuários e onde o desvelo de José Sócrates se excedeu em quantidade – e falta de qualidade…

Este quadro, camaradas e amigos, para além de uma atenção muito especial, torna evidente que a defesa dos interesses do País e das populações envolve desde logo dois aspectos:

- uma coordenação e um diálogo intensos entre os municípios e autarquias da Área Metropolitana de Lisboa e, em particular, da zona ribeirinha;

- por outro lado, uma atenção muito especial à Câmara de Lisboa.

O que aconteceu nos últimos dois anos de mandato de António Costa serviu já para demonstrar o que pode significar um governo da autarquia de Lisboa, da maior autarquia do País, em estreita cooperação e cumplicidade com a política dos grandes interesses económicos em geral e as suas expressões governativas em particular.

Camaradas e amigos

Como tínhamos previsto com toda a clareza, o PS e António Costa (para além do despudor habitual de colocarem os recursos da Câmara ao serviço da sua campanha, como é o aberrante e escandaloso caso da animação do Parque Mayer, rábula de revista de que nem os nossos melhores revisteiros se lembrariam!...), fez da revisão do PDM um eixo da sua acção eleitoralista.

É indispensável, camaradas e amigos, reter sobre esta situação três factos:

- primeiro, avançou-se num consumar de planos parcelares que desde já condicionam o PDM que irá ser feito. Não foi por o carro à frente dos bois: foi por os interesses dos donos dos carros, dos bois e dos terrenos à frente de tudo…

- segundo, o critério base que enforma o PDM é o do valor do solo; em termos mais comezinhos, a especulação imobiliária. O que na terminologia do Vereador Manuel Salgado se designa por «áreas de oportunidade» e determinam planeamentos e definições urbanísticas não visam a criação de riqueza proveniente do trabalho ou do investimento, mas essencialmente a valorização da propriedade do solo e a sua exploração. O PDM e a sua preparação não curam de áreas de desenvolvimento susceptíveis de criarem clusters produtivos em áreas compatíveis com a evolução urbana de Lisboa (vejam-se os casos de Marvila, da Boavista, da concentração de equipamentos hospitalares na Bela Vista ou as perspectivas relativamente à Portela), mas tão só – a construção! Pôr o solo a produzir renda, não pôr o solo a produzir riqueza; a primeira é especulação imobiliária em benefício do proprietário, a segunda só é possível quando sobre o solo se coloca o Homem a trabalhar e a produzir – e é em benefício de todos.

- terceiro, para além de discussões (ainda por cima meio manhosas) sobre a altura do tabuleiro da TTT ou sobre o jardim da Liscont na gare de Alcântara, estes dois anos foram marcados pelo mais mimoso entendimento entre a Câmara de Lisboa de António Costa e o governo de José Sócrates. As frentes ribeirinhas, o Terreiro do Paço, os museus, a comemorável república – e o mais que não sabemos, mas advínhamos…

Isto, camaradas e amigos, tem de servir de severo aviso a todos nós, a Lisboa, aos lisboetas: Lisboa precisa de uma Câmara e não de uma repartição do Governo, Lisboa precisa de um Presidente e de Vereadores na mais legítima e nobre tradição do nosso municipalismo e não de funcionários que nunca foram do Rei e agora não podem ser do primeiro-ministro.

Camaradas e amigos

Muito mais haveria a dizer-vos sobre Lisboa, as suas necessidades, as suas carências, as necessidades da reabilitação urbana e do espaço público, a melhoria dos transportes públicos, os problemas de segurança, a abordagem séria da situação dos bairros sociais, o tratamento honesto do universo empresarial municipal, a reconstrução da dignidade e condições dos trabalhadores da Câmara, bem precioso desta Cidade. Disso falamos no documento programático que hoje apresentamos.

Ele poder-se-á tornar realidade se dele fizermos uma realidade no conhecimento, na consciência, na vontade de quantos irão exercer o cívico e democrático direito de votar.

Temos todos este orgulho profundo duma Cidade que é nossa, temos todos o desgosto de vermos como, anos e anos – e de que forma nestes derradeiros oito anos! – ela se degrada, empobrece – e empobrece não apenas do dinheiro, que por aí continua a haver, mas das pessoas que a abandonam.

Há mais de quinhentos anos, um poeta tão apaixonado por estas colinas como nós, Garcia de Resende, escrevia:

Lisboa vimos crescer

em povos e em grandeza

e muito se enobrecer

em edifícios e riqueza

em armas e em poder.

Porto e trato, não há tal.

A terra não tem igual

Nas frutas e nos mantimentos.

Governo, bons regimentos

Lhe falece, e não al.

É para isso que vamos à luta: bons regimentos, bons planeamentos, bons governos – passar a haver porque os vamos eleger, porque Lisboa irá eleger os candidatos da CDU!

Muito obrigado.